Caminhava sempre sozinho, as janelas estavam sempre fechadas. Cada volta que a chave dava na porta era um aperto em seu coração. O seu caminhar na rua escura era torpe, inseguro. Não sabia em que se apoiar e frequentemente tinha a sensação de que estava caindo.
Sentia-se seguro quando seus deuses estavam por perto, quando através das brumas intermináveis eles surgiam e o levavam para lugares distantes. Sua própria vida era como uma masmorra no alto de uma colina que desaparecia no horizonte, e seus desejos estavam aprisionados em calabouços obscuros e gelados.
Não tentava abrir mais seus olhos, pois a escuridão o vencia com facilidade. O transportava de forma rápida e ágil através de sentidos e olhares assustados. Suas mãos pareciam sempre atadas, suas pernas há tempos que não o obedeciam, seus olhos sempre a enxergar dor e prazer como sensações parelhas.
Passava por um imenso corredor feito de pedras escuras, o chão estava úmido devido às chuvas de junho. Vários retratos antigos o olhavam com lágrimas nos olhos e sussurravam entre si. Conforme ele ia passando pelas velhas molduras seu rosto ficava cada vez mais perdido através da intensa neblina que dominava todo corredor. A cada passo que dava os archotes que iluminavam o corredor do calabouço se apagavam. Não se assustava, nem se importava, apenas caminhava em direção de seus deuses. Eram deuses terríveis, intolerantes, nada misericordiosos. Com desejo e com devoção chegava ao altar onde faria a oferenda. Entoava cantos e dedicava olhares aflitos que clamavam por bênção.
Esse santo desejo era seu ópio, era sua vida. Às vezes sentia-se o único ser lúcido sobre a face da terra, mesmo sendo o único a andar na contramão. O mundo lhe parecia... O que lhe parecia o mundo? Era apenas uma vitrine repleta de ilusão diante de olhares sedentos por agonia. Não era ele que pensava dessa forma, ele nem sabia em que pensava. Mas tinha essa imagem apocalíptica em algum lugar de seu inconsciente. Ainda não havia descoberto esses conceitos e valores, mas os sentia, de alguma forma os sentia.
Em igrejas, em tabernas, em prostíbulos, em casas, enfim, por todos os lugares já andara, porém em nenhum deles sentiu-se livre, em nenhum destes lugares sentiu-se como um ser capaz de raciocinar sozinho, porque nunca teve em sua mente essas idéias de autonomia.
Sentia-se seguro quando seus deuses estavam por perto, quando através das brumas intermináveis eles surgiam e o levavam para lugares distantes. Sua própria vida era como uma masmorra no alto de uma colina que desaparecia no horizonte, e seus desejos estavam aprisionados em calabouços obscuros e gelados.
Não tentava abrir mais seus olhos, pois a escuridão o vencia com facilidade. O transportava de forma rápida e ágil através de sentidos e olhares assustados. Suas mãos pareciam sempre atadas, suas pernas há tempos que não o obedeciam, seus olhos sempre a enxergar dor e prazer como sensações parelhas.
Passava por um imenso corredor feito de pedras escuras, o chão estava úmido devido às chuvas de junho. Vários retratos antigos o olhavam com lágrimas nos olhos e sussurravam entre si. Conforme ele ia passando pelas velhas molduras seu rosto ficava cada vez mais perdido através da intensa neblina que dominava todo corredor. A cada passo que dava os archotes que iluminavam o corredor do calabouço se apagavam. Não se assustava, nem se importava, apenas caminhava em direção de seus deuses. Eram deuses terríveis, intolerantes, nada misericordiosos. Com desejo e com devoção chegava ao altar onde faria a oferenda. Entoava cantos e dedicava olhares aflitos que clamavam por bênção.
Esse santo desejo era seu ópio, era sua vida. Às vezes sentia-se o único ser lúcido sobre a face da terra, mesmo sendo o único a andar na contramão. O mundo lhe parecia... O que lhe parecia o mundo? Era apenas uma vitrine repleta de ilusão diante de olhares sedentos por agonia. Não era ele que pensava dessa forma, ele nem sabia em que pensava. Mas tinha essa imagem apocalíptica em algum lugar de seu inconsciente. Ainda não havia descoberto esses conceitos e valores, mas os sentia, de alguma forma os sentia.
Em igrejas, em tabernas, em prostíbulos, em casas, enfim, por todos os lugares já andara, porém em nenhum deles sentiu-se livre, em nenhum destes lugares sentiu-se como um ser capaz de raciocinar sozinho, porque nunca teve em sua mente essas idéias de autonomia.
Talvez todas suas andanças pudessem resultar em uma segunda versão da obra do velho Burton. Anatomia da Melancolia? Ele nunca havia lido o Burton, mas era como se já tivesse. Sem compreender nada do que se passava em sua mente, com as mãos abertas bateu levemente em seu rosto magro para recuperar um pouco de insanidade. Levantou do banco da praça e começou sua caminhada rumo à loucura tão esperada.
Como o secular flautista guiou milhares de crianças rumo ao mar, ele guiou milhares de vultos rumo aos imensos portões da insanidade. Gritou até ser ouvido. Os portões se abriram, entregou-se à sua lucidez, fechou sua porta e jogou a chave fora. Havia encontrado seu paraíso. Vendo o reflexo de seus olhos aflitos na água em que bebia, deitou no chão e começou a entoar uma antiga canção. Vários vultos que o cercavam começaram a caminhar em direção do mar.
2 comentários:
Cara, em 2005 eu descobri esse autor fenomenal! bora trocar considerações, trechos ou ideias soltas... eu me interesso tanto por ele que me assusta! E vai uma dica, leia depois dele, algoq ue vai mudar um pouco sua otica: 'Identidade e diferença' de heiddegger. abracos
Valeu, Savio, mas de qual autor você está falando? Esse conto é meu.Abraço.
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