Durante os 40 anos que durou o regime autoritário de Salazar (1889-1970) Portugal esteve submerso num suposto clima de estabilidade econômica. Durante o Estado Novo (1933-1974) o ditador português criou a União Nacional, partido único durante toda a vigência de seu império, e partiu para uma linha de ação econômica nacionalista autoritária, rompendo assim, muitos contatos na Europa e levou Portugal a um isolamento econômico, fiscal e alfandegário.
E o que tudo isso tem que ver (como dizem os portugueses) com a literatura? Tudo. Muitos autores portugueses durante meados dos anos 30 e parte dos 40, estavam interessados em uma literatura de ordem social, ou seja, o Neo-Realismo estava em ascensão e a crítica social estava na ordem do dia. Escritores como Manuel da Fonseca, Fernando Namora, Alves Redol, Miguel Torga, Augusto Abelaira, Vergílio Ferreira e até José Saramago se vincularam a esta corrente, que além de defender os interesses de uma classe rural oprimida, também manifestava um intenso interesse de natureza socialista de lutar contra o autoritarismo de Salazar.
Diferente das correntes regionalistas dos anos 30 no Brasil, que na maioria dos casos retratava o ambiente urbano, o Neo-Relaismo português retratou na maioria das vezes as injustiças e mazelas do campo. Não foi por acaso que o Neo-Realismo teve como berço o Alentejo. Romances como Vindima (1945) de Miguel Torga, e Vagão "J" (1946) de Vergílio Ferreira não se concentram no Alentejo, e sim no Norte de Portugal, Douro e Serra da Estrela, mas têm influência direta dos autores alentejanos.
Durante os 40 anos de ditadura houve muita censura, muitos escritores foram proibidos de publicar seus livros, como Alexandre Pinheiro Torres, grande escritor e crítico literário que viveu a maior parte de sua vida auto-exilado em Cardif, em País de Gales. O seu romance Espingardas e Música Clássica (1987) escrito em 1962 só foi publicado 25 anos após a sua escrita. Segundo o próprio Torres, esse livro permaneceu literalmente engavetado por 25 anos. A censura perseguia principalmente autores que de certa forma foram ligados ao Neo-Realismo, mas não se limitava apenas a estes.
No início dos anos 70, ainda sob a vigência do Estado Novo, porém sem o ditador, morto em 1970, Portugal mantinha suas colônias na África e enviava constantemente soldados portugueses ao front, como uma massa de condenados a morrer numa guerra sangrenta e sem sentido. O ditador já não estava vivo, a derrocada em Luanda era iminente, e foi em meio a um final melancólico da guerra em Angola que Portugal viveu seus últimos dias de ditadura. Muitos escritores e artistas de várias áreas participaram da chamada Revolução dos Cravos, que derrubou de vez o regime salazarista no dia 25 de abril de 1974. O levante teve forte apoio de militares descontentes com a guerra em Angola e chegou ao seu ápice com a aceitação maciça da população. Foi uma manifestação pacífica, na qual centenas de pessoas tomaram as ruas com rosas e cravos nas mãos (daí Revolução dos Cravos).
A abertura política e econômica foi fundamental para a literatura e para as artes em geral em Portugal. Alexandre Pinheiro Torres é o exemplo categórico disso. É claro que mesmo durante o regime salazarista muitos autores contrários ao regime publicaram, inclusive o Neo-Realismo teve um apelo popular tão forte que os censores simplesmente não poderiam vetar todas as obras.Mas vários destes autores também eram constantemente perseguidos e tinham obras queimadas em praça pública.
Como todas as ditaduras, a de Portugal teve seus altos e baixos. De um lado um certo crescimento da produção nacional, mas por outro a falta de tolerância e de liberdade de expressão. O povo vivendo em meio do fogo cruzado entre comunistas e "reacionários" passou por tempos de obscuridade e medo. Há escritores que voltaram a publicar em Portugal, mas que nunca mais voltaram a viver em seu país, como Alexandre Pinheiro Torres e o crítico e ensaísta Eduardo Lourenço.
O 25 de abril em Portugal é lembrado e comemorado de formas diversas e controversas por quem viveu naqueles tempos e também por quem não esteve lá. Mas o fato é que é uma data importante como um todo, deixando de lado rivalidades pueris entre comunas e conservadores. O que não se pode esquecer é da boa literatura que foi produzida mesmo durante os anos de repressão, como um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos, Vergílio Ferreira, muitas vezes acusado por comunistas e esquerdinhas universitários de alienado. Esquecem eles do valor estético da obra de um autor como Vergílio Ferreira, de sua técnica narrativa apurada. Mas esse é o estigma de uma revolução, mesmo não sendo armada. O conflito ideológico no caso da Revolução dos Cravos evidencia-se de forma às vezes clara às vezes nem tanto, e por isso há de se levar em consideração a dicotomia ideológica e revolucionária. O 25 de abril é e foi isso. Eterna dicotomia na terra de Camões.
E o que tudo isso tem que ver (como dizem os portugueses) com a literatura? Tudo. Muitos autores portugueses durante meados dos anos 30 e parte dos 40, estavam interessados em uma literatura de ordem social, ou seja, o Neo-Realismo estava em ascensão e a crítica social estava na ordem do dia. Escritores como Manuel da Fonseca, Fernando Namora, Alves Redol, Miguel Torga, Augusto Abelaira, Vergílio Ferreira e até José Saramago se vincularam a esta corrente, que além de defender os interesses de uma classe rural oprimida, também manifestava um intenso interesse de natureza socialista de lutar contra o autoritarismo de Salazar.
Diferente das correntes regionalistas dos anos 30 no Brasil, que na maioria dos casos retratava o ambiente urbano, o Neo-Relaismo português retratou na maioria das vezes as injustiças e mazelas do campo. Não foi por acaso que o Neo-Realismo teve como berço o Alentejo. Romances como Vindima (1945) de Miguel Torga, e Vagão "J" (1946) de Vergílio Ferreira não se concentram no Alentejo, e sim no Norte de Portugal, Douro e Serra da Estrela, mas têm influência direta dos autores alentejanos.
Durante os 40 anos de ditadura houve muita censura, muitos escritores foram proibidos de publicar seus livros, como Alexandre Pinheiro Torres, grande escritor e crítico literário que viveu a maior parte de sua vida auto-exilado em Cardif, em País de Gales. O seu romance Espingardas e Música Clássica (1987) escrito em 1962 só foi publicado 25 anos após a sua escrita. Segundo o próprio Torres, esse livro permaneceu literalmente engavetado por 25 anos. A censura perseguia principalmente autores que de certa forma foram ligados ao Neo-Realismo, mas não se limitava apenas a estes.
No início dos anos 70, ainda sob a vigência do Estado Novo, porém sem o ditador, morto em 1970, Portugal mantinha suas colônias na África e enviava constantemente soldados portugueses ao front, como uma massa de condenados a morrer numa guerra sangrenta e sem sentido. O ditador já não estava vivo, a derrocada em Luanda era iminente, e foi em meio a um final melancólico da guerra em Angola que Portugal viveu seus últimos dias de ditadura. Muitos escritores e artistas de várias áreas participaram da chamada Revolução dos Cravos, que derrubou de vez o regime salazarista no dia 25 de abril de 1974. O levante teve forte apoio de militares descontentes com a guerra em Angola e chegou ao seu ápice com a aceitação maciça da população. Foi uma manifestação pacífica, na qual centenas de pessoas tomaram as ruas com rosas e cravos nas mãos (daí Revolução dos Cravos).
A abertura política e econômica foi fundamental para a literatura e para as artes em geral em Portugal. Alexandre Pinheiro Torres é o exemplo categórico disso. É claro que mesmo durante o regime salazarista muitos autores contrários ao regime publicaram, inclusive o Neo-Realismo teve um apelo popular tão forte que os censores simplesmente não poderiam vetar todas as obras.Mas vários destes autores também eram constantemente perseguidos e tinham obras queimadas em praça pública.
Como todas as ditaduras, a de Portugal teve seus altos e baixos. De um lado um certo crescimento da produção nacional, mas por outro a falta de tolerância e de liberdade de expressão. O povo vivendo em meio do fogo cruzado entre comunistas e "reacionários" passou por tempos de obscuridade e medo. Há escritores que voltaram a publicar em Portugal, mas que nunca mais voltaram a viver em seu país, como Alexandre Pinheiro Torres e o crítico e ensaísta Eduardo Lourenço.
O 25 de abril em Portugal é lembrado e comemorado de formas diversas e controversas por quem viveu naqueles tempos e também por quem não esteve lá. Mas o fato é que é uma data importante como um todo, deixando de lado rivalidades pueris entre comunas e conservadores. O que não se pode esquecer é da boa literatura que foi produzida mesmo durante os anos de repressão, como um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos, Vergílio Ferreira, muitas vezes acusado por comunistas e esquerdinhas universitários de alienado. Esquecem eles do valor estético da obra de um autor como Vergílio Ferreira, de sua técnica narrativa apurada. Mas esse é o estigma de uma revolução, mesmo não sendo armada. O conflito ideológico no caso da Revolução dos Cravos evidencia-se de forma às vezes clara às vezes nem tanto, e por isso há de se levar em consideração a dicotomia ideológica e revolucionária. O 25 de abril é e foi isso. Eterna dicotomia na terra de Camões.
5 comentários:
bicho, dei uma mexida no nosso texto, dê os palpites.
veja se está coerente coisa com coisa.
abraços.
Certeza, Giuliano. Já li o texto e está bom assim.E o comentário do anônimo?
Abraço.
o comentário, é um simples comentário. nem cara tem.
Ah, sim. Nem esquento a cabeça.Comentários e mais comentários.
ei, bicho
dê uma olhada nos meus dois últimos poemas
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