Na Arte Poética, Horácio (I séc. A. C.) afirmava: “ut pictura poesis”, algo como “como a pintura, é a poesia”, que se pode simplificar para “pintura é também poesia”. Mesmo sem um significado estrutural próprio, a expressão veio a ser interpretada como um princípio de similaridade entre a pintura e poesia. Como tanto a pintura como a poesia, ambas podem retratar a realidade e assim coincidir com o que afirmou Aristóteles
O princípio de similaridade entre poesia e pintura volta a ser reafirmado no Parnasianismo. Os poetas dessa estética procuravam unir a poesia à pintura e criavam verdadeiros painéis. No Brasil, Alberto de Oliveira, por exemplo, no Soneto “Vaso Chinês”, em que descreve com tantas minúcias que o poema se torna visual. Nestes versos, pode-se observar a aproximação entre pintura e poesia:
“Estranho mimo aquele vaso! (...) / Fino artista chinês, enamorado, / Nele pusera o coração doentio / Em rubras flores de um sutil lavrado, / Na tinta ardente, de um calor sombrio. / Mas, talvez por contraste à desventura, / Quem o sabe?... de um velho mandarim / Também lá estava a singular figura. / Que arte em pintá-la! (...)”.
No Modernismo com suas Vanguardas, as relações entre ambas as artes estreitam-se a ponto de obras ou poemas pretenderem retratar quadros ou situações próprias da pintura, como é o caso dos caligramas, de Apollinaire. O poeta francês pretendia estabelecer a fusão da expressão literária com a expressão plástica.
Essa tentativa ressurge ainda com mais força na segunda metade do século XX, com o movimento da Poesia Concreta, iniciada no Brasil em 1950. O Concretismo, que pregava a diminuição da importância do discurso em prol da figura plástica do poema.
Na crítica fenomenológica, que teve sua força por volta dos anos 60, Mikel Dufrenne, em seu livro O Poético, expõe: “pode-se dizer que uma tela ou um monumento introduzem em nós um estado poético”. Portanto, um quadro pintado ou um monumento erigido em praça pública podem nos levar a usufruir a poesia, porque ela pode estar contida na natureza, nas coisas e nas pessoas. Afirma ainda Dufrenne que, na natureza, a poesia pode estar em uma bela paisagem, num belo pôr do sol; nas coisas, pode aparecer em pinturas e estátuas; e em pessoas, pode brilhar no olhar da pessoa amada.
A revista Távola Redonda, nos anos 50, em Portugal, busca também essa aproximação entre pintura, desenho e poesia. Desse modo, ilustrava as páginas de cada fascículo com desenhos dos próprios poetas colaboradores, como António Manuel Couto Viana, António Ramos, António Vaz Pereira, João Mattoso, João Santiago, José Régio e do seu irmão, artista plástico, Julio.
Para ilustração (no início do texto), apresentamos uma figura da página 5, Fascículo 2.
Jayme Ferreira Bueno* é professor de Literatura Portuguesa e publicou Távola Redonda: uma experiência lírica, que resultou da tese de doutorado em Letras na Universidade de São Paulo.
3 comentários:
Olá, Daniel, obrigado pela postagem. Continuo a visitar seu blog sempre.
Olá, professor. Eu que agradeço pelas contribuições. Um grande abraço.
OLá! Gostaria de receber indicações de referências bibliográficas sobre a relação pintura e literatura e/ou pintura e poesia. Desejo desenvolver este tema em minha monografia. Obrigada.
Sylvia Teresa Meneses Sousa
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