terça-feira, 15 de abril de 2008

SOLICITAÇÃO À POESIA


VEM, Poesia, serena,

simples, casta, natural,

nesta meia tarde amena

de uma preguiça animal!


Vem, de cabelos floridos,

perfumada a benjoim,

dar aos meus cinco sentidos

o princípio, o meio e o fim!


Vem, solitária e esguia,

sem prenúncios de chegada.

Frágil coloração fria,

que adeje, sonhe - e mais nada...


Vem, doente do mistério

da tua visitação...

Ser diáfono e sidério

que floresce no meu chão!


DANIEL FILIPE

DO PÓ AO PÓ


Há alguns dias eu estava revirando alguns livros em minha estante e me deparei com um volume antigo de poesia portuguesa contemporânea, de 1970, com prefácio de David-Mourão Ferreira. Foi uma feliz surpresa, sendo que nem me lembrava de tal relíquia. Logo me pus a ler alguns poemas desordenadamente e com voracidade, era um apetite quase sexual. Descobri (sim, descobri) o grande Sebastião da Gama nesse exemplar, e seu fantástico poema CONDIÇÃO, que é uma síntese de sua curta, mas inquieta, obra poética.


São significativos também nomes como Marcos Leal, Luiz de Macedo, Fernando de Paços, Daniel Filipe. Vou postando alguns poemas desses autores durante a semana, assim os caros leitores poderão ir acompanhando a produção poética portuguesa entre as décadas de 50 e 70. Pelo menos uma pequena parte dela.