domingo, 12 de agosto de 2007

O mestre dos insultos


Thomas Bernhard é um dos maiores romancistas do sec. XX. Bernhard é um autor polêmico, amado e odiado. Romances seus como Árvores abatidas e Extinção são verdadeiras obras-primas que retratam a repulsa do indivíduo pelo meio ao qual pertence. Mas não só isso.


Ler Bernhard, além de ser uma aventura abissal, ontológica, é uma aventura linguística. Bernhard não usa parágrafos, constrói períodos muito longos e isso talvez afaste alguns leitores.Mas seu estilo é arrebatador, sombrio, sarcástico e crítico. É um crítico feroz principalmente em relação ao seu país, a Áustria. Critica seus costumes provincianos e a vida comum no seu cotidiano.


Em seus romances há muitos elementos autobiográficos, como por exemplo em Extinção. Nesse romance Bernhard dá voz ao personagem Franz-Josef Murau, um professor austríaco de literatura que vive auto-exilado em Roma, porque não suporta sua família e o meio em que seus pais vivem. E ele tenta de qualquer forma se distanciar ao máximo que pode de suas origens, ele tenta, através da palavra, se extinguir. Sua família, sua casa, sua cidade, enfim, lhe causam náuseas. Há uma passagem do romance que mostra bem isso:


"Adquiri o hábito de pensar constantemente (e de dizer!), minha mãe é repulsiva, minhas irmãs também, e estúpidas, meu pai é fraco, meu irmão um pobre idiota, todos eles são uns imbecis".


São petardos como esses que compõem o romance. Bernhard choca, instiga, provoca, ofende, insulta o leitor o tempo todo.A narrativa é densa, pesada e pela falta de parágrafos e de capítulos, durante a leitura nos sentimos sem fôlego. Mas sem coragem de abandonar o livro. É uma espécie de Voltaire do século XX. Thomas Bernhard, o mestre dos insultos.



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